O processo de envelhecimento é complexo, semelhante a assistir a um filme que você já sabe o final, mas que ainda assim consegue surpreender a cada cena. Os cabelos começam a envelhecer, os passos tornam-se mais lentos, e a memória, nossa velha companheira, começa a armar ciladas. Contudo, existe algo de belo nessa trajetória, como se cada marca fosse uma narrativa impressa no rosto.
Aos poucos, aprendemos que a pressa não tem mais tanto sentido. Os dias, antes apressados, agora parecem convidar para uma pausa. O tempo, que outrora corria contra, agora se torna um aliado silencioso, talvez até um cúmplice da serenidade. Percebemos que, ao envelhecer, não ganhamos apenas anos, mas também a habilidade de apreciar o simples, o cotidiano, como se nunca antes tivéssemos realmente notado a cor do céu ou o gosto da sopa caseira.
É evidente que a juventude é uma constante lembrança, uma lembrança da energia sem restrições e da curiosidade incessante. No entanto, a velhice traz uma sabedoria que não pode ser adquirida nem transmitida, apenas vivida. Entre uma lembrança que se dissipa e outra que se mantém, o que realmente conta é o que se experimenta e a maneira como se opta por viver cada novo amanhecer.
O envelhecimento é semelhante a um livro que, em vez de terminar, começa a compreender a beleza de sua própria história. Cada virada de página representa um adeus a algo, mas também a introdução de algo novo, mesmo que sutil. Isso, em si mesmo, já é uma grande bênção.
Meire Marion é professora de inglês, escritora e poeta. Tem 7 livros para crianças publicados pela Scortecci Editora. Colunista da Revista Voo Livre de literatura. Também participa de diversas antologias com poemas e contos.
Sensação
Vento
Umidade