Nos últimos meses, os brasileiros vibraram com o sucesso internacional do longa-metragem “Ainda estou aqui” — e celebramos, juntos, sua vitória no Oscar 2025. Dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, o filme foi inspirado no livro homônimo, que faz parte da saga autobiográfica iniciada com “Feliz ano velho”. Agora, depois de o Brasil e o mundo conhecerem melhor a história de sua família, Marcelo Rubens Paiva retorna à escrita de suas memórias para contar um novo capítulo, com uma narrativa envolvente e íntima sobre paternidade. O novo agora, livro franco e emocional, chega em abril às livrarias pela editora Alfaguara.
Nas obras anteriores, ele fala sobre o acidente que o deixou numa cadeira de rodas aos vinte anos, o desaparecimento do pai, Rubens, durante a ditadura militar e a luta da mãe, Eunice, para cuidar sozinha dos cinco filhos, se tornar uma defensora dos direitos indígenas e, por fim, enfrentar o Alzheimer. Desta vez, é o próprio Marcelo quem está no papel de pai, criando duas crianças pequenas em meio às incertezas políticas, o isolamento social da pandemia e uma separação.
Marcelo intercala memórias pessoais de Rubens, cartas de Eunice, crises íntimas e acontecimentos cotidianos, para construir uma narrativa envolvente e singela sobre a paternidade, em meio a um período desafiador da história recente do país.
Verão de 2014. Entre ondas de calor e chuvas torrenciais, Marcelo e sua esposa, grávida, se apressam até a maternidade. Pai de primeira viagem, ele descasca uma banana enquanto espera o elevador, prevendo que poderia ficar horas sem comer, e demora a notar o olhar crítico da mulher: “Você ainda come uma banana?”.
O parto marca uma mudança radical na vida do casal, e é o pontapé inicial desta tocante narrativa. Às vezes bem-humorado, em outras melancólico, Marcelo Rubens Paiva mergulha nas agruras da paternidade, ao mesmo tempo em que recorda períodos especialmente duros do país: primeiro, a guinada política que atinge em cheio sua família e artistas. Depois, a pandemia. E, em meio a isso, a lenta fragmentação do casamento.
A escrita avança e recua no tempo, retoma memórias de infância e relatos de Rubens Paiva e Eunice, seus pais, para buscar modelos de como educar uma criança, enquanto se fixa no presente: o casal tem o segundo filho, a direita sobe ao poder e, a partir daí, Marcelo começa a ser boicotado e ver seus projetos serem cancelados. Na pandemia, com crianças ainda pequenas, surge o desafio de criar formas de gerir uma casa com pouca ajuda externa. Paulatinamente, se desenha um retrato complexo de uma família atravessada por crises em diferentes níveis, incerta quanto ao futuro, mas que, aos poucos, aprende a sobreviver. E a sair do outro lado refeita.
Sensação
Vento
Umidade