Audible
FUVEST

Memórias de Martha – A Solidão Feminina no Brasil Oitocentista

Entre as vozes femininas que marcaram a literatura brasileira do século XIX, Júlia Lopes de Almeida se destacou por sua escrita envolvente e crítica à condição da mulher em uma sociedade patriarcal.

Leitura de Vestibular

Leitura de VestibularColuna de resenhas de livros de leitura obrigatória para os principais vestibulares do Brasil.

04/04/2025 02h06Atualizado há 2 semanas
Por: Redação
Capa do livro Memórias de Martha, de Júlia Lopes de Almeida (Via Leitura)
Capa do livro Memórias de Martha, de Júlia Lopes de Almeida (Via Leitura)

Com uma lista totalmente atualizada de livros obrigatórios, contendo apenas obras de autoria feminina, a Fundação Universitária para o Vestibular (FUVEST) traz Memórias de Martha, de Júlia Lopes de Almeida, autora que nasceu no século XIX lutou pela causa abolicionista e apesar de ter feito parte do grupo de autores que fundou a Academia Brasileira de Letras (ABL), ela não entrou para o hall de imortais da casa. A justificativa: Ser mulher.

E é justamente por esse apagamento na vida e obra da autora, que a FUVEST trouxe seu nome para a lista de obras para o Vestibular 2026, além de outras mulheres que o tempo quis apagar da história e agora são revividos através do Vestibular da USP. A obra de Júlia, não é a mais famosa, mas com essas razões para seu nome estar na lista, Memórias de Martha é o livro certo para estar entre os selecionados do ano.

Memórias de Martha é um romance essencial para compreendermos os dilemas femininos da época em que foi publicado, 1899, pois nos apresenta a trajetória de uma protagonista que luta contra as imposições sociais e familiares. A narrativa confessional, estruturada em forma de memórias, permite ao leitor mergulhar na complexidade psicológica da protagonista, uma mulher que desafia silenciosamente as normas que a aprisionam.

A história gira em torno de Martha, uma jovem criada para cumprir o papel esperado de filha, esposa e mãe, sem espaço para seus próprios sonhos. No entanto, desde cedo, a personagem revela inquietações e uma vontade latente de romper com as expectativas impostas.

Seu embate com a rígida Dona Mariana, sua madrasta, simboliza a luta contra a autoridade feminina que, paradoxalmente, reforça os valores patriarcais. Já a relação com Padre Anselmo evidencia o papel da religião na manutenção das estruturas opressivas. Entre os homens que cruzam seu caminho, estão Henrique e Antônio.

Enquanto o primeiro aparece como um possível refúgio afetivo, o segundo representa o modelo masculino dominante. Mas a realidade imposta a ela a impede de viver um amor com Henrique e Antônio tem um pensamento totalmente oposto às vontades da protagonista, mas é com quem se casa.

 

"O mundo esperava dela a resignação silenciosa, mas Martha queria mais do que suportar: queria viver, ainda que contra as regras que lhe impunham."

p. 128

 

A tensão central da obra está no conflito entre desejo e dever. Martha anseia por liberdade, mas é constantemente barrada pelas obrigações sociais. Seu casamento, visto inicialmente como uma possibilidade de felicidade, se torna mais uma forma de aprisionamento.

A solidão se intensifica, e a protagonista se vê diante de um destino infeliz, algo comum a muitas mulheres de sua época. Nesse ponto, Júlia Lopes de Almeida constrói uma forte crítica à falta de autonomia feminina, algo que ecoa em autoras como Jane Austen e Charlotte Brontë, que também exploraram o dilema da mulher confinada por padrões opressivos.

Autora Julia Lopes de Almeida | Divulgação

Se compararmos Memórias de Martha a outras obras da autora, como A Falência, seu grande best-seller, percebemos um foco maior na psique da personagem, tornando o romance um estudo profundo sobre as emoções e frustrações femininas.

Enquanto A Falência retrata os impactos do capitalismo no destino das mulheres, Memórias de Martha enfatiza a solidão feminina e a impossibilidade de realização pessoal dentro das estruturas da época. Assim, a obra não apenas reflete as dores de uma personagem, mas denuncia uma sociedade que, à época, negava às mulheres qualquer possibilidade de autodeterminação.

Logo, para os mais jovens, a obra é um tanto quanto atual, para que esse menosprezo à mulher retorne para nossa sociedade e uma oportunidade de compreender criticamente a literatura como instrumento de reflexão social.

O livro Memórias de Martha, de Júlia Lopes de Almeida está disponível para compra na AMAZON e é leitura obrigatória para o Vestibular da USP, a FUVEST - 2026.

Nenhumcomentário
500 caracteres restantes.
Seu nome
Cidade e estado
E-mail
Comentar
* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou com palavras ofensivas.
Mostrar mais comentários
Ele1 - Criar site de notícias