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Resenha

“Opúsculo Humanitário”: uma leitura atemporal. Até quando?

A pensadora feminista Nísia Floresta apresenta uma revolução da educação feminina em seu livro que a partir deste ano é cobrado no vestibular da FUVEST-2026

Leitura de Vestibular

Leitura de VestibularColuna de resenhas de livros de leitura obrigatória para os principais vestibulares do Brasil.

11/04/2025 01h32Atualizado há 7 dias
Por: Redação
Capa de Opúsculo Humanitário e conselhos para minha filha - Edição Via Leitura - EDIPRO
Capa de Opúsculo Humanitário e conselhos para minha filha - Edição Via Leitura - EDIPRO

A lista de leituras obrigatórias da FUVEST 2026 traz uma obra de grande relevância histórica e social: Opúsculo Humanitário, de Nísia Floresta. Publicado originalmente em 1853, este livro não apenas questiona a exclusão feminina da educação e da vida pública, mas também antecipa discussões fundamentais sobre igualdade de gênero, tema que permanece bem atual.

Como a obra está em domínio público, seu acesso é facilitado, permitindo que novos leitores explorem os argumentos de uma das primeiras feministas do Brasil, mas aos que preferem o livro em formato físico, segue aqui algumas editoras que realizaram a edição impressa da obra:

 

  - COMPANHIA DAS LETRAS – PENGUIN – Opúsculo Humanitário, de Nísia Floresta

  - VIA LEITURA (Edipro) – Opúsculo Humanitário e conselhos à minha filha, de Nísia Floresta

  - MONTECRISTO EDITORA – Opúsculo Humanitário, de Nísia Floresta

 

Em uma sociedade patriarcal como a do século XIX, a potiguara Nísia Floresta (1810 – 1885) ousou desafiar a ordem vigente e exigir direitos para as mulheres. Composto de 62 artigos, publicados originalmente entre 1852 e 1853 na imprensa da época e para um público de classe social mais abastada, a autora emprega em seu Opúsculo uma retórica afiada para denunciar a hipocrisia de uma sociedade que se dizia civilizada, mas que negava às mulheres o direito ao conhecimento e à autonomia. Como a própria autora escreveu:

 

“Povos do Brasil, que vos dizeis civilizados! Governo, que vos dizeis liberal! Onde está a doação mais importante dessa civilização, desse liberalismo?”

p. 17

 

Nísia Floresta demonstra que a exclusão da mulher da educação formal não era fruto do acaso, mas sim uma construção social que visava manter a subordinação feminina. No ano de publicação, pouco mais de cinquenta e cinco mil brasileiros estavam matriculados na escola, e, desse número, nem 15% eram mulheres, conforme dados da própria autora.

Por isso, seu texto, é repleto de ironia e argumentação histórica, traça um panorama da condição da mulher nas sociedades ocidentais desde a Antiguidade, até os seus dias no século XIX, em um Brasil ainda escravocrata. Nisso, Opúsculo é um grito que destaca a necessidade urgente de mudança.

Embora tenha sido escrito há mais de 170 anos, Opúsculo Humanitário continua surpreendentemente atual. Ao exigir que as mulheres tenham acesso à educação e à vida pública, Floresta abre caminho para debates que continuam essenciais ainda hoje. Em um trecho emblemático da obra, ela afirma:

 

“Nada, porém, ou quase nada temos visto fazer-se para remover os obstáculos que retardam os progressos da educação das nossas mulheres.”

p. 41

 

Ainda hoje, a luta pela igualdade de gênero e pelo acesso universal à educação encontra ecos nos discursos de feministas contemporâneas, como Sueli Carneiro e Djamila Ribeiro. O pensamento de Nísia Floresta foi essencial para que essas intelectuais pudessem continuar questionando o racismo estrutural e o machismo que ainda limitam as oportunidades de muitas mulheres no Brasil.

Ao incluir Opúsculo Humanitário na lista obrigatória da FUVEST 2026, a universidade reforça a importância de revisitar as raízes da escrita feminina brasileira em seus primórdios. A leitura da obra faz o candidato do vestibular refletir sobre as desigualdades ainda existentes até os dias de hoje.

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